A Pirata, romance, Dom Quixote, 2006
A vida de Mary Read lê-se como um romance de acção e aventura para todas as idades. Escrito com simplicidade e humor, A Pirata acompanha as etapas da curta vida desta mulher que nasceu em Inglaterra nos finais do século XVII e que, logo de início, viu o seu destino marcado pelo nascimento ilegítimo e a morte do meio-irmão, ainda bebé. Vestida e criada como rapaz, Mary Read alistou-se ainda muito jovem no exército da Rainha Ana e partiu para a guerra da Flandres, onde se distinguiu pela coragem e pela disciplina em várias campanhas militares. Mas a paixão por um soldado holandês e o fim temporário da guerra na Europa levaram-na a novas andanças e a novos horizontes.
A Pirata é uma biografia ficcionada da célebre Mary Read, uma das poucas piratas de que há memória. Conhece-se a história de Mary Read pela breve descrição que dela faz o Capitão Charles Johnson na História Geral dos Piratas. Sabe-se que ela nasceu em Inglaterra, que foi soldado na Flandres, que foi capturada na Jamaica com a tripulação do famoso Capitão Calico Jack Rackam e a sua amante, a terrível Anne Bonny. Condenadas à morte na forca, Mary Read e Anne Bonny viram a sentença adiada por estarem ambas grávidas. Mary Read veio a morrer na prisão, em Abril de 1721.
Tradução italiana:
A vida de Mary Read lê-se como um romance de acção e aventura para todas as idades. Escrito com simplicidade e humor, A Pirata acompanha as etapas da curta vida desta mulher que nasceu em Inglaterra nos finais do século XVII e que, logo de início, viu o seu destino marcado pelo nascimento ilegítimo e a morte do meio-irmão, ainda bebé. Vestida e criada como rapaz, Mary Read alistou-se ainda muito jovem no exército da Rainha Ana e partiu para a guerra da Flandres, onde se distinguiu pela coragem e pela disciplina em várias campanhas militares. Mas a paixão por um soldado holandês e o fim temporário da guerra na Europa levaram-na a novas andanças e a novos horizontes.
A Pirata é uma biografia ficcionada da célebre Mary Read, uma das poucas piratas de que há memória. Conhece-se a história de Mary Read pela breve descrição que dela faz o Capitão Charles Johnson na História Geral dos Piratas. Sabe-se que ela nasceu em Inglaterra, que foi soldado na Flandres, que foi capturada na Jamaica com a tripulação do famoso Capitão Calico Jack Rackam e a sua amante, a terrível Anne Bonny. Condenadas à morte na forca, Mary Read e Anne Bonny viram a sentença adiada por estarem ambas grávidas. Mary Read veio a morrer na prisão, em Abril de 1721.
Tradução italiana:
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Marchando pela Holanda
O tempo na Holanda. Várias qualidades de chuva. Mary alista-se na Infantaria.
A baioneta nova. A canção de marcha.
Peço-vos agora que imaginem um sítio onde chove trezentos e sessenta e cinco dias por ano. Agora tirem-lhe dois dias. É a Holanda. Umas vezes chove muito, em bátegas pesadas, outras vezes chove miudinho. Umas vezes chove no nevoeiro, outras vezes chove e consegue ver-se um palmo adiante do nariz. Umas vezes chove a direito, outras vezes sopra o vento, dispersa a chuva, que cai em diagonal da esquerda para a direita, ou da direita para a esquerda. Às vezes anda por ali às voltas. Às vezes, para variar, neva. Nas cidades, as paredes são de pedra cinzenta e as portadas de madeira das janelas, às vezes, vermelhas escuras. Sai-se de casa e logo ali há um canal. Neste canal, flutuam barcas que se movem à vara. Pode haver pedaços de gelo no canal, que às vezes está sujo e outras vezes um pouco mais limpo. A gente veste-se de escuro, as mulheres usam toucas de abas, todas brancas. O ruído do estralejar dos tamancos na calçada é ensurdecedor, porque tudo faz eco.
Para Mary, no entanto, a Holanda significava a liberdade. Não tinha de aturar o capitão que rimava, nem as tarefas pesadas e monótonas da vida no mar. Estava em terra firme e andava tão depressa pelas ruas que parecia voar. E voava, fardada da cabeça aos pés, com o seu chapéu de três bicos, uma bela casaca vermelha com debruns dourados e calção apertado no joelho, meias pretas, sapatos de fivela, uma correia de couro com as munições atravessada ao peito, uma garrafinha de pólvora, um mosquete e a espada à cinta, que não servia para nada senão para atrapalhar. Mas o seu orgulho era uma baioneta novinha em folha que ela tratava com o máximo carinho, encaixando-a na ponta do mosquete e ensaiando poses guerreiras que divertiam os companheiros. A estada na cidade durou pouco, pois o comandante dos ingleses, o Duque de Marlborough, queria seguir a toda a brida para sul. Puseram-se em marcha. E marchando para as Linhas do Brabante, pelas planícies da Flandres, que hoje fica no que hoje se chama Bélgica, todos no batalhão de infantaria, caminhando cantavam assim:
Havia um velhinho no Brabante
Que tinha uma cabrinha falante
Recitava de trás p´ra diante
A cartilha do grão-mareante
(Refrão, todos)
E era bem interessante!
A chuva caía e ensopava as novas casacas vermelhas e os mosqueteiros, os granadeiros, os cavaleiros, os artilheiros marchavam pelo nevoeiro, assim cantando:
Há em Haia um bom chapeleiro
Qu´ andou nu um dia inteiro
Só de chapéu e meio dinheiro
P´ra gastar no cabeleireiro
(Refrão, todos)
Que era muito careiro!
Há em Delft um grande pintor
Faz quadros a óleo sem cor
Sem forma, cheiro ou sabor
Ficam bem na parede maior
(Refrão, todos)
E nas outras ainda melhor!
E já muito encharcados, ao fim de horas e horas de marcha, ainda cantavam os soldados dos exércitos da chamada Grande Aliança:
Havia uma dama em Amesterdão
Que tinha uma mão outra mão outra mão
Mais duas nos bolsos e duas no chão
Mas para amassar a massa do pão
E para pregar o botão do gibão
E para lavar o bico do grão
E para ninar o menino chorão
E para feirar o gordo leitão
(Refrão, todos)
Ia pedir ao irmão!
E quando o nevoeiro levantou, já de manhã, os exércitos aliados viram, no cimo de umas elevações que dominavam a planície, as brancas casacas da infantaria francesa, alinhadas ao longo de uns seis quilómetros. Eram ao todo sessenta mil homens. Se não tivessem dado ordem de “alto!”, Mary teria parado na mesma. É uma estranha visão, e grandiosa, um exército inimigo à nossa espera. Mary sentiu que faltava pouco para o combate, e que continuava a não ter muito medo, pelo contrário, tinha curiosidade e desejo de atacar.
O tempo na Holanda. Várias qualidades de chuva. Mary alista-se na Infantaria.
A baioneta nova. A canção de marcha.
Peço-vos agora que imaginem um sítio onde chove trezentos e sessenta e cinco dias por ano. Agora tirem-lhe dois dias. É a Holanda. Umas vezes chove muito, em bátegas pesadas, outras vezes chove miudinho. Umas vezes chove no nevoeiro, outras vezes chove e consegue ver-se um palmo adiante do nariz. Umas vezes chove a direito, outras vezes sopra o vento, dispersa a chuva, que cai em diagonal da esquerda para a direita, ou da direita para a esquerda. Às vezes anda por ali às voltas. Às vezes, para variar, neva. Nas cidades, as paredes são de pedra cinzenta e as portadas de madeira das janelas, às vezes, vermelhas escuras. Sai-se de casa e logo ali há um canal. Neste canal, flutuam barcas que se movem à vara. Pode haver pedaços de gelo no canal, que às vezes está sujo e outras vezes um pouco mais limpo. A gente veste-se de escuro, as mulheres usam toucas de abas, todas brancas. O ruído do estralejar dos tamancos na calçada é ensurdecedor, porque tudo faz eco.
Para Mary, no entanto, a Holanda significava a liberdade. Não tinha de aturar o capitão que rimava, nem as tarefas pesadas e monótonas da vida no mar. Estava em terra firme e andava tão depressa pelas ruas que parecia voar. E voava, fardada da cabeça aos pés, com o seu chapéu de três bicos, uma bela casaca vermelha com debruns dourados e calção apertado no joelho, meias pretas, sapatos de fivela, uma correia de couro com as munições atravessada ao peito, uma garrafinha de pólvora, um mosquete e a espada à cinta, que não servia para nada senão para atrapalhar. Mas o seu orgulho era uma baioneta novinha em folha que ela tratava com o máximo carinho, encaixando-a na ponta do mosquete e ensaiando poses guerreiras que divertiam os companheiros. A estada na cidade durou pouco, pois o comandante dos ingleses, o Duque de Marlborough, queria seguir a toda a brida para sul. Puseram-se em marcha. E marchando para as Linhas do Brabante, pelas planícies da Flandres, que hoje fica no que hoje se chama Bélgica, todos no batalhão de infantaria, caminhando cantavam assim:
Havia um velhinho no Brabante
Que tinha uma cabrinha falante
Recitava de trás p´ra diante
A cartilha do grão-mareante
(Refrão, todos)
E era bem interessante!
A chuva caía e ensopava as novas casacas vermelhas e os mosqueteiros, os granadeiros, os cavaleiros, os artilheiros marchavam pelo nevoeiro, assim cantando:
Há em Haia um bom chapeleiro
Qu´ andou nu um dia inteiro
Só de chapéu e meio dinheiro
P´ra gastar no cabeleireiro
(Refrão, todos)
Que era muito careiro!
Há em Delft um grande pintor
Faz quadros a óleo sem cor
Sem forma, cheiro ou sabor
Ficam bem na parede maior
(Refrão, todos)
E nas outras ainda melhor!
E já muito encharcados, ao fim de horas e horas de marcha, ainda cantavam os soldados dos exércitos da chamada Grande Aliança:
Havia uma dama em Amesterdão
Que tinha uma mão outra mão outra mão
Mais duas nos bolsos e duas no chão
Mas para amassar a massa do pão
E para pregar o botão do gibão
E para lavar o bico do grão
E para ninar o menino chorão
E para feirar o gordo leitão
(Refrão, todos)
Ia pedir ao irmão!
E quando o nevoeiro levantou, já de manhã, os exércitos aliados viram, no cimo de umas elevações que dominavam a planície, as brancas casacas da infantaria francesa, alinhadas ao longo de uns seis quilómetros. Eram ao todo sessenta mil homens. Se não tivessem dado ordem de “alto!”, Mary teria parado na mesma. É uma estranha visão, e grandiosa, um exército inimigo à nossa espera. Mary sentiu que faltava pouco para o combate, e que continuava a não ter muito medo, pelo contrário, tinha curiosidade e desejo de atacar.
A batalha de Ramillies
A vida militar vista de perto. A estratégia de Churchill.
Splach, vlam, aarg. Vitória! Vitória!
John Churchill, o Duque de Marlborough, comandante dos Exércitos Aliados, rodeado do seu estado-maior, mantinha-se na retaguarda em silêncio. A cavalo, dentro da armadura brilhante, avaliava o inimigo e pensava e calculava.
À uma e meia da tarde os canhões dispararam. Uma hora depois começou a batalha. Marlborough percebeu o ponto fraco do inimigo : linhas de defesa dispostas ao longo de quilómetros são fáceis de romper. Fez primeiro avançar pela direita a infantaria inglesa e Mary caminhou com o seu batalhão, no meio da lama e das pedras, para um ribeiro chamado Pequeno Ghete, que os separava do exército francês. Apesar de ser o fim de Maio, a água estava gelada. Avançar, avançar, pensava ela. Não era exactamente pensar, porque era feito com as pernas e os braços e os músculos todos das costas e de todo o lado. E fixou os olhos na outra margem do ribeiro, na linha da infantaria francesa, que se revezava a disparar para cá. Havia a gritaria dos que atacavam a pé e os pesados cavalos que rompiam a linha francesa; havia o troar dos canhões, os tiros dos mosquetes, o tilintar das espadas, o rufar dos tambores, o relinchar e o esparrinhar dos cavalos na água, os urros dos que se torciam de dores - uns caíam de borco e splach! e outros caíam de costas e vlam! e outros tombavam de lado aarg!, desamparados na terra e na lama. Tudo aquilo a entusiasmava, e ela avançava a toda a velocidade que a lama permitia, e os olhos brilhavam.
Foi uma batalha terrível que o Duque de Marlborough ganhou com sorte e astúcia. Começou com uma finta : atacando pela direita, fez com que o comandante dos franceses, o Marechal Villars, retirasse tropas do centro da linha defensiva para reforçar a esquerda. Assim que isto aconteceu, Marlborough mandou parar a ofensiva pela direita e atacou pelo centro, acabando por romper as linhas inimigas. Isto é mais fácil de dizer do que de fazer. A verdade é que a primeira carga da cavalaria dos Aliados, composta por esquadrões holandeses e dinamarqueses, conseguiu de facto destruir a primeira linha da infantaria francesa, mas a segunda linha já não foi assim tão simples. Esta segunda linha de defesa, que era constituída pelo regimento da Casa Real de Luís XIV, um grupo de jovens nobres destemidos e muito bem treinados, mantinha-se firme, impedindo o avanço da cavalaria holandesa em direcção à aldeia francesa de Ramillies, o verdadeiro alvo de Marlborough. O general Ouwerkerk, no meio da confusão, vendo que não conseguia romper por ali, gritou para o ajudante de campo que fosse avisar Marlborough. Mas o Duque já tinha dado ordem para que os batalhões do flanco direito viessem disfarçadamente para o centro e assim que o ajudante de campo lhe disse o que se passava na frente, reuniu os seus cavaleiros, disparou ordens em todas as direcções e cavalgou depressa para lá. Só parou no meio dos jovens franceses que , assim que o reconheceram na frente da batalha, cercaram-no e atacaram-no sem que os seus oficiais tivessem tempo de reagir. Mary viera entretanto com os seus para esta frente de batalha, e avançava devagar, à medida que os recontros da cavalaria permitiam. Viu o Duque de Marlborough cercado por um grupo de cavaleiros franceses e viu como acorriam cinquenta cavaleiros holandeses e ingleses a defendê-lo. Mas já ele se escapava, espadeirando à direita e a esquerda, muito direito no cavalo e ao mesmo tempo flexível, mas sempre impecável na sua cabeleira postiça compridíssima toda aos caracóis. Mary vê-o conduzir o cavalo para um valado cheio de lama e dá um grito quando o cavalo tropeça e cai. Marlborough levanta-se de um salto. Os franceses, que vêm logo atrás dele, lançam em coro um grito de vitória, consideram a batalha ganha. O cavalo relincha, tenta levantar-se com as patas retesadas e balanços de cabeça, mas está numa cova, não consegue. Mary e os seus recebem ordens para disparar sobre os franceses da Casa Real. Os oficiais de Marlborough concentram-se agora nessa área e, protegendo o seu comandante, conseguem ao mesmo tempo desbaratar os jovens franceses. O ajudante de campo desmonta imediatamente e oferece o seu cavalo a Marlborough. No mesmo instante, uma bala desfaz-lhe a cabeça, e ele cai fulminado. O Duque monta depressa, galopa para junto dos holandeses e lidera a última carga. Continua o troar dos canhões ao longe, os cavalos pesados parecem grandes monstros musculosos cobertos de lama, sangue e suor. Os estandartes estão mortiços da chuva, que abafa os ecos da batalha. Mary e os seus avançam sobre Ramillies, agora que a cavalaria aliada conseguiu destruir o regimento da Casa Real de Luís XIV. Conquistam a pequena aldeia em luta corpo a corpo e os franceses batem em retirada. Pelas cinco da tarde, o general francês ainda tenta uma nova linha defensiva, mas a cavalaria foge e é a debandada geral do Exército das Duas Coroas, agora perseguido pela cavalaria ligeira dos Aliados.
Morreram muitos milhares de homens nesta batalha. Muitos ficaram feridos e muitos foram feitos prisioneiros. Ao fim da tarde, descansaram. Pelas três da manhã, Mary recebeu de novo ordem de marcha. Marlborough continuou a avançar para sul em direcção à fronteira francesa. Muitas cidades se renderam sem luta, outras depois de cerco e assalto. E quando chegou o Inverno parou o combate e recomeçaram as negociações de paz.
A vida militar vista de perto. A estratégia de Churchill.
Splach, vlam, aarg. Vitória! Vitória!
John Churchill, o Duque de Marlborough, comandante dos Exércitos Aliados, rodeado do seu estado-maior, mantinha-se na retaguarda em silêncio. A cavalo, dentro da armadura brilhante, avaliava o inimigo e pensava e calculava.
À uma e meia da tarde os canhões dispararam. Uma hora depois começou a batalha. Marlborough percebeu o ponto fraco do inimigo : linhas de defesa dispostas ao longo de quilómetros são fáceis de romper. Fez primeiro avançar pela direita a infantaria inglesa e Mary caminhou com o seu batalhão, no meio da lama e das pedras, para um ribeiro chamado Pequeno Ghete, que os separava do exército francês. Apesar de ser o fim de Maio, a água estava gelada. Avançar, avançar, pensava ela. Não era exactamente pensar, porque era feito com as pernas e os braços e os músculos todos das costas e de todo o lado. E fixou os olhos na outra margem do ribeiro, na linha da infantaria francesa, que se revezava a disparar para cá. Havia a gritaria dos que atacavam a pé e os pesados cavalos que rompiam a linha francesa; havia o troar dos canhões, os tiros dos mosquetes, o tilintar das espadas, o rufar dos tambores, o relinchar e o esparrinhar dos cavalos na água, os urros dos que se torciam de dores - uns caíam de borco e splach! e outros caíam de costas e vlam! e outros tombavam de lado aarg!, desamparados na terra e na lama. Tudo aquilo a entusiasmava, e ela avançava a toda a velocidade que a lama permitia, e os olhos brilhavam.
Foi uma batalha terrível que o Duque de Marlborough ganhou com sorte e astúcia. Começou com uma finta : atacando pela direita, fez com que o comandante dos franceses, o Marechal Villars, retirasse tropas do centro da linha defensiva para reforçar a esquerda. Assim que isto aconteceu, Marlborough mandou parar a ofensiva pela direita e atacou pelo centro, acabando por romper as linhas inimigas. Isto é mais fácil de dizer do que de fazer. A verdade é que a primeira carga da cavalaria dos Aliados, composta por esquadrões holandeses e dinamarqueses, conseguiu de facto destruir a primeira linha da infantaria francesa, mas a segunda linha já não foi assim tão simples. Esta segunda linha de defesa, que era constituída pelo regimento da Casa Real de Luís XIV, um grupo de jovens nobres destemidos e muito bem treinados, mantinha-se firme, impedindo o avanço da cavalaria holandesa em direcção à aldeia francesa de Ramillies, o verdadeiro alvo de Marlborough. O general Ouwerkerk, no meio da confusão, vendo que não conseguia romper por ali, gritou para o ajudante de campo que fosse avisar Marlborough. Mas o Duque já tinha dado ordem para que os batalhões do flanco direito viessem disfarçadamente para o centro e assim que o ajudante de campo lhe disse o que se passava na frente, reuniu os seus cavaleiros, disparou ordens em todas as direcções e cavalgou depressa para lá. Só parou no meio dos jovens franceses que , assim que o reconheceram na frente da batalha, cercaram-no e atacaram-no sem que os seus oficiais tivessem tempo de reagir. Mary viera entretanto com os seus para esta frente de batalha, e avançava devagar, à medida que os recontros da cavalaria permitiam. Viu o Duque de Marlborough cercado por um grupo de cavaleiros franceses e viu como acorriam cinquenta cavaleiros holandeses e ingleses a defendê-lo. Mas já ele se escapava, espadeirando à direita e a esquerda, muito direito no cavalo e ao mesmo tempo flexível, mas sempre impecável na sua cabeleira postiça compridíssima toda aos caracóis. Mary vê-o conduzir o cavalo para um valado cheio de lama e dá um grito quando o cavalo tropeça e cai. Marlborough levanta-se de um salto. Os franceses, que vêm logo atrás dele, lançam em coro um grito de vitória, consideram a batalha ganha. O cavalo relincha, tenta levantar-se com as patas retesadas e balanços de cabeça, mas está numa cova, não consegue. Mary e os seus recebem ordens para disparar sobre os franceses da Casa Real. Os oficiais de Marlborough concentram-se agora nessa área e, protegendo o seu comandante, conseguem ao mesmo tempo desbaratar os jovens franceses. O ajudante de campo desmonta imediatamente e oferece o seu cavalo a Marlborough. No mesmo instante, uma bala desfaz-lhe a cabeça, e ele cai fulminado. O Duque monta depressa, galopa para junto dos holandeses e lidera a última carga. Continua o troar dos canhões ao longe, os cavalos pesados parecem grandes monstros musculosos cobertos de lama, sangue e suor. Os estandartes estão mortiços da chuva, que abafa os ecos da batalha. Mary e os seus avançam sobre Ramillies, agora que a cavalaria aliada conseguiu destruir o regimento da Casa Real de Luís XIV. Conquistam a pequena aldeia em luta corpo a corpo e os franceses batem em retirada. Pelas cinco da tarde, o general francês ainda tenta uma nova linha defensiva, mas a cavalaria foge e é a debandada geral do Exército das Duas Coroas, agora perseguido pela cavalaria ligeira dos Aliados.
Morreram muitos milhares de homens nesta batalha. Muitos ficaram feridos e muitos foram feitos prisioneiros. Ao fim da tarde, descansaram. Pelas três da manhã, Mary recebeu de novo ordem de marcha. Marlborough continuou a avançar para sul em direcção à fronteira francesa. Muitas cidades se renderam sem luta, outras depois de cerco e assalto. E quando chegou o Inverno parou o combate e recomeçaram as negociações de paz.