DEUS. PÁTRIA. REVOLUÇÃO, dramaturgia de Luísa Costa Gomes,
direcção musical de Luís Bragança Gil,
Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém, 2009
Este espectáculo é o resultado da recriação musical de um vasto repertório que marcou o período Salazarista e o período pós 25 de Abril, recorrendo à conjugação / desconjugação de hinos, marchas, e canções portuguesas de cariz fascista, revolucionário ou religioso, mesclando repertórios que normalmente não vemos associados e que vão do erudito ao popular, numa paisagem de situações e rituais que compõe um mosaico de imagens de Portugal. Esta travessia pelos diversos géneros musicais, registos e atitudes, do paródico ao sarcástico, do escolar ao grandioso, do heróico ao delicodoce, sem esquecer o severamente militante, o abstracto e o partidário é, ainda, pontuada pelos “discursos ideológicos” e as ladaínhas escolares que fizeram parte do quotidiano de diferentes gerações, realçando nelas o que hoje soa desconcertante. Não se trata, no entanto, de um espectáculo revivalista. Pelo contrário, a intenção é trazer para o nosso tempo um repertório considerado ultrapassado, para o ‘retrabalhar’ através de sobreposições de estilos musicais, que vão dos hinos da Mocidade Portuguesa às Canções da Resistência, passando por grandes compositores associados ao Regime, ou que o combateram, como Ruy Coelho, Frederico de Freitas, Francisco de Lacerda, ou Fernando Lopes-Graça, pelo nacional cançonetismo de Maria de Fátima Bravo, Trio Odemira, João Maria Tudela ou Duo Ouro Negro, entre outros, e ainda pelas canções de abril de autores como José Afonso, Sérgio Godinho, José Mário Branco e Adriano Correia de Oliveira.
O elenco é composto pelos cantores solistas Alexandra Moura, Inês Madeira, Fernando Guimarães e Rui Baeta, e ainda pelo Coro Voces Caelestes e a Orquestra Aldrabófona, num total de 20 pessoas em palco, que encarnam múltiplos personagens.