E OS SONHOS SONHOS SÃO, dramaturgia de Luísa Costa Gomes,
encenação de António Pires,
Teatro do Bairro, 4 Março 2015
Os sonhos sonhos são é uma peça construída com textos clássicos da dramaturgia ocidental. Da Voz Humana à Antígona, Ubu Rei ou Woyzeck, pedaços desse corpus servem agora outro enredo. A ideia era simples: cruzar o universo popular dos palhaços com linguagens dramatúrgicas eruditas. Como seria partir do corpo do palhaço e fazê-lo dizer, dentro da sua realidade palhacística, um tomorrow and tomorrow and tomorrow ou o desespero de uma outra Mary da Longa Viagem para a Noite? Que história vislumbramos aqui? Será circo? Será sonho? Ou o sonho é outra coisa? Os protagonistas são revisitações dos palhaços tradicionais: o palhaço branco ou rico, o palhaço pobre ou augusto, o contra-augusto, o espertalhão, a equilibrista da sombrinha. Tontos e incompetentes para a vida, figuras tragicómicas por excelência, os palhaços apropriam-se igualmente de tudo, da comédia, da tragédia, do melodrama, mostrando, enfim, nessa paródia, a força de textos que, ditos de novo e noutros contextos, ganham outro sentido e frescura.